A Nintendo certamente é bastante conhecida pelo seu foco em diversão e jogabilidade, representado em franquias como Mario, Zelda e Kirby. Porém, de tempos em tempos, a gigante japonesa resgata uma série antiga e lhe dá novos ares ao se aproveitar do avanço da tecnologia. E é exatamente neste cenário que Emio The Smiling Man, o novo exclusivo do Nintendo Switch, se encaixa. Mas será que vale a pena?

É Novidade ou não é?

Em primeiro lugar, precisamos deixar uma coisa clara: este lançamento não se trata do início de uma nova franquia. A série Famicon Detective Club surgiu na década de 80, tendo dois jogos lançados exclusivamente para o Family Computer Disk System. The Missing Heir e The Girl who Stands Behind permaneceram como exclusivos japoneses até 2021, quando o mundo todo recebeu um remake dos títulos através da The Two-Case Collection para Nintendo Switch.

Famicon Detective Club Emio – The Smiling Man é a terceira interação da curiosa franquia, trazendo desta vez elementos de terror e suspense. A Nintendo tem investido pesado na divulgação do novo título, com direito a um misterioso teaser em formato de vídeo, o qual passou a impressão de que poderíamos receber um jogo no estilo de Outlast ou FNAF. Mas afinal, quem é Emio?

Quem é Emio?

No melhor estilo creep pasta, dentro do universo do jogo, Emio é dito como o personagem principal de uma popular lenda urbana japonesa. Segundo o conto, um homem misterioso com um saco na cabeça se aproximava de garotas em idade colegial que estariam chorando e prometia lhes dar um sorriso que jamais passaria. Tomando a vida das jovens, o assassino encerrava seu ritual colocando um saco de papel com um rosto sorridente desenhado na cabeça delas.

O ponto central do jogo é a existência de um serial killer com o mesmo modus operandi da lenda, tendo sido responsável pela morte de 3 garotas jovens há 18 anos em relação ao momento que o enredo se desenrola. O caso volta a ganhar relevância no meio policial quando um jovem de 15 anos é encontrado sem vida em uma área rural, estando ele com o característico saco de papel colocado em sua cabeça.

Detetive Particular, Jovem Curioso

O jogador assume o papel de um jovem de 19 anos que trabalha como assistente de investigador em uma agência particular. O seu chefe, o detetive independente Shunsuke Utsugi, é um antigo policial cheio de experiência e conhecimento, sempre envolvido em investigações oficiais e mistérios relacionados a desaparecimentos e assassinatos. Ele é extremamente maduro e equilibrado, fazendo o papel de mentor do personagem principal.

Na respeitável agência, além de Utsugi e do personagem do jogador (que pode receber o nome que você desejar), trabalha também mais uma bela assistente. Ayumi Tachibana é organizada e possui grandes habilidades sociais e de pesquisa. Ela representa o papel de interesse amoroso e senpai do jogador. Isso tudo sem contar as dezenas de carismáticos personagens secundários que habitam o vívido mundo de Famicon Detective Club.

Foco na História

Precisamos deixar uma coisa bastante clara sobre Emio The Smiling Man: este é um jogo com foco total na história. Ao contrário de títulos como The Last of Us e God of War, nos quais o enredo é apenas o plano de fundo para a ação e a aventura, aqui a narrativa é o que define a experiência do jogador.

Por se tratar de uma visual novel, gênero que ficou famoso recentemente por games como Doki Doki Literature Club, Emio representa uma forma diferente de se apresentar e explorar um universo fantasioso. Da mesma forma que livros, filmes, animes e séries são mídias que têm como função contar uma história, este tipo de game existe pelo desejo de se compartilhar uma narrativa proveniente da mente dos seus roteiristas.

Qual que pula?

Se você espera atravessar cenários perigosos ou utilizar o limite dos seus reflexos para provar o seu valor como jogador, saiba que esta nova edição de Famicon Detective Club não é pra você. Aqui não existe confronto contra chefes, plataformas para saltar ou mesmo um sistema de batalha. Não existe tela de game over ou mesmo contador de vidas; a única forma de não terminar este jogo é se você desistir de o jogar.

A jogabilidade de Emio é limitada à existência de menus, pelos quais o jogador navega para selecionar ações pré-estabelecidas. Comandos como “Perguntar/Escutar”, “Pensar” e “Chamar” podem ser ativados para que a narrativa continue se desenvolvendo. Também é possível examinar o cenário para encontrar detalhes que lhe ajudarão a obter informações sobre o que está acontecendo no universo do game, porém sempre de forma limitada, e, de certo modo, restritiva.

Preciso também avisar para o leitor que não espere um sistema de gameplay semelhante ao encontrado na série Phoenix Wright da Capcom. Raramente você sentirá que algo que encontrou na cena do crime poderá mudar totalmente a investigação, ficando o jogador muito mais no papel de assistente do que o de detetive que solucionará o caso sozinho. Claro, em certos momentos você precisará consultar o seu caderno de anotações para responder perguntas específicas, porém isto é mais para dar uma falsa ilusão de escolha do que para modificar o curso da narrativa.

Um Mundo Vivo e Belo

Vou falar aqui sem qualquer ressalva: Emio The Smiling Man é um jogo extremamente bonito! Da identidade visual adotada em seus textos à riqueza de detalhes dos cenários apresentados, tudo emana carinho e cuidado por parte dos ilustradores e designers. Este game é a prova máxima do valor criativo inestimável dos seres humanos, do nível de qualidade que não pode ser alcançado por qualquer máquina do mundo. O aspecto visual desta obra esbanja vida e amor, o que melhora absurdamente a imersão do jogador nesta narrativa.

O design dos personagens jamais flerta com o genérico ou com o preguiçoso, um verdadeiro paraíso nesta era de IAs e plágio. Do protagonista ao mais simplório dos NPCs, é possível identificar uma pessoa crível e real, mesmo naqueles que aparecem apenas uma vez durante a história toda. Eu sou extremamente ignorante com relação ao meio artístico, porém mesmo eu sei reconhecer o uso de uma boa paleta de cores e de um bom traço.

A trilha sonora de Emio é envolvente e harmoniosa, contribuindo para a ambientação da trama e intensificando o impacto da sua narrativa. Cada cenário possui seu próprio tema, permitindo que a atmosfera do game viaje da tranquilidade de uma tarde ensolarada para a tensão da investigação de uma noite nebulosa. Destaque também para a qualidade da dublagem japonesa, que não deve absolutamente nada ao mais consagrado dos RPGs ou ao mais popular dos animes. Simplesmente primoroso!

Vale a Pena?

Emio The Smiling Man cumpre com o papel que se propôs a desempenhar: contar uma história levemente interativa que consiga entreter o jogador e o cativar. O jogo é cheio de reviravoltas e plot-twists, cuja narrativa gradualmente vai se expandindo e trazendo novos elementos, evitando deixar as soluções dos mistérios de forma óbvia demais.

Como pontos negativos, podemos destacar a falta de localização/legendas em português e a ausência de um sistema de escolhas que realmente impactem a trama e abram novos caminhos. A duração de 12 horas em um jogo com preço sugerido de R$ 249,00 também pode afastar alguns jogadores.

No fim, Emio é um jogo competente e emocionante, mesmo que não traga nada de muito novo ao seu gênero. Recomendado para aqueles que apreciam uma boa história de suspense e mistério.

Nota: 8

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Jornalista, Youtuber e Influencer há 12 anos trabalhando com games

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