Em qualquer meio de consumo de produtos ou prestação de serviços, cada empresa procura se estabelecer como a melhor no que faz. Valorizar a marca é atrair legiões de fãs, os quais, por sua vez, fazem a empresa valer ainda mais no mercado de ações. Para alcançar tal objetivo, o setor corporativo se utiliza de um fenômeno de distorção perceptiva conhecido como “Efeito Halo”. Basicamente, a marca contrata celebridades e figuras de autoridade para divulgar suas criações e ofertas, conectando a imagem dos famosos à marca e fazendo o público ignorar quaisquer defeitos que a companhia demonstre. O resultado? fãs desgovernados, sem senso crítico ou potencial de julgamento, que compram sem pensar e defendem sem motivo; os fanboys.
O termo “fanboy” surgiu em meados de 1988, no famoso país anglo-saxão Estados Unidos da America. Inicialmente utilizado para designar fãs que se aprofundavam em quadrinhos/filmes, o termo hoje pode ser aplicado a qualquer pessoa que defenda com unhas e dentes qualquer empresa ou produto, de modo a fazer valer seu ponto independente dos argumentos contrários. É o fã da DC que insiste em dizer que Esquadrão Suicida foi bom; é o nerd da Apple que diz não achar ruim o Iphone 10 custar 2x mais e não ter entrada para fone de ouvido; é o gamer Nintendista, que se ilude afirmando que “GTA não faz falta” no seu console. Enfim, é o comentarista de internet.
A internet deu força a essa massa “fanboy” que se escondia até então em porões, convenções especiais, lojas de quadrinhos e mesas de RPG. E agora, a sua presença gera um ambiente de conversação tóxica por onde quer que passe. Vamos criar um cenário hipotético: Carlos é fã da marca Xbox; ele já jogou todos os games Halo, Forza, Fable, Gears e por aí vai, e conhece todas os jogos exclusivos da plataforma desde o primeiro console da Microsoft. Um dia, a Sony, detentora da marca Playstation, anuncia que será lançado The Last of Us 2 exclusivamente para o Playstation 4; ela lança um trailer, sobe uma tag nas redes socias e pede a opinião dos fãs. Carlos, sendo “caixista”, dá dislike nos vídeos do anúncio, ofende todo mundo que ousou comentar sobre o game, ataca seus amigos que tem um Playstation e, durante 3 dias, espalha coisas negativas sobre a empresa japonesa. Ele consegue estragar o dia de diversas pessoas, e mesmo assim, seu dia não melhora, a sua inveja não passa. Conclusão? Carlos é um fanboy; é uma pessoa tóxica.
O problema do fanboy é um só: ele é um mentiroso compulsivo. Mente para si mesmo de que a marca X é a melhor em tudo; que ele nunca vai ou já quis consumir produtos de outra marca; que tudo o que a empresa decide é 100% certo, sem JAMAIS errar; que ele não precisa de mais nada que não seja a sua devoção. Por que você precisa estar sempre certo? Por que você não pode gostar de Xbox E de Playstation? Por que você precisa ofender/diminuir os outros para valorizar o que é seu? Por que você vive de uma maneira tão egoísta? O fanboy não precisa de punição nem de louvor, ele precisa de tratamento psicológico. E eu falo isso de maneira séria, pois esse comportamento, na vida cotidiana, só vai atrair dor, solidão e fracasso. Todo comportamento auto-destrutivo começa da mesma forma: pequeno, inofensivo, levemente enervante. Mas o resultado dessa “bola de neve negativa” varia muito: de um simples defeito pouco perceptível até algo que afasta todos a sua volta.
O que nós podemos fazer para mudar isso? Se você é um fanboy, procure pensar melhor nas informações que recebe, reflita com cuidado, opine com educação; e, acima de tudo, entenda: Não há NADA de errado em gostar de muitas coisas. Gostar de laranja não desvaloriza a maçã. Se você tem um amigo que age desse modo tóxico, converse com ele calmamente, mostre que você só quer ajudar e deixe ele se expressar. E se o fanboy que te torra a paciência estiver na internet, como um total desconhecido, mande o famoso “block”; todo palhaço precisa de público, mas você não precisa fazer parte dele.