A Nintendo sempre foi uma empresa diferenciada no campo dos negócios. Das cartas de Hanafuda aos brinquedos engenhosos, a companhia japonesa sempre conseguiu dar a volta por cima através do uso da criatividade. Da ousadia de lançar o seu primeiro console de mesa como um “sistema de entretenimento”, a inovação do controle do 64, com potencial expansivo de vibração e analógico milimetricamente posicionado, a gigante nunca teve medo de arriscar. Mas, como todos já sabemos, tudo tem limites.

O sucesso colossal do Wii, console nintendista que apostou no público casual para expandir os horizontes, abriu os olhos do mercado para a próxima moda: os controles por movimento. A Sony trouxe o preciso PlayStation Move, que era capaz de fazer tudo o que o Wii Remote fazia, só que melhor. Já a Microsoft foi mais além, apresentando o misterioso Kinect aos consumidores eufóricos, dispensando totalmente o uso de controles (e de precisão também). A geração estava acabando, e os players teriam que apresentar suas novas apostas. O resultado já era esperado: Sony e Microsoft permaneceram conservadores, enquanto a Nintendo deu um dos maiores “saltos de fé” da história da companhia. Era hora de mudar!

E3 2011, Los Angeles, Califórnia; o carismático Reggie Fils-Aimé sobe ao palco, dá um discurso motivacional e apresenta a “bomba”: Wii U. O nome, uma alusão a conexão entre os jogadores antigos e novos, é o primeiro passo de um dos piores product reveals de todos os tempos. Um vídeo é passado, demonstrando diversas de formas de interagir com o “Wii U Gamepad” , um controle parecido com um tablet, dotado de tela e comandos. Satoru Iwata complementa o vídeo falando das funcionalidades do controle e da filosofia por trás do seu desenvolvimento. A conferência termina e um TURBILHÃO de perguntas invade a mente de jornalistas, fãs e consumidores; O Wii U é um novo console? Tem gráficos melhores que o Wii? Ou é só um acessório?

O Nintendo Wii U nem havia chegado ao mercado em meados de 2011 e já sofria o dano causado por dois ataques: o nome confuso, que poderia simplesmente ser trocado por “Wii 2”, para fazer o consumidor entender que se tratava de um novo aparelho; e apresentação totalmente desorganizada, que não mostrou sequer UMA VEZ o console, o dispositivo que rodaria os discos e realizaria o processamento gráfico, focando-se apenas no seu controle elaborado. Para se ter uma ideia da confusão causada, foi necessário espalhar cartazes nas lojas físicas avisando que jogos “Wii U” não poderia ser executados no Nintendo Wii. Caos define o ocorrido.

Em Novembro de 2012, o Nintendo Wii U foi lançado no território norte-americano com 23 jogos, com destaque para: Nintendo Land, um jogo com o estilo da linha “Wii”, passando-se num parque de diversões; New Super Mario Bros U, a nova edição da famosa franquia; Sonic & All-Stars Racing Transformed, excelente game de corridas do ouriço; e Zombi U, que prometia elevar a experiência dos survivor games. O resto dos títulos eram ports de jogos já lançados em outras plataformas ou games de pouca expressão.

O suporte das third-parties, como Warner, Activision, Ubisoft e EA, foi extremamente positivo no começo do ciclo de vida do Wii U, com games como Assassin’s Creed IV, CoD Black Ops 2 e Rayman Legends. Mas a felicidade não durou muito; após 1 ano da chegada do Xboxone e do Playstation 4 ao mercado, ninguém mais tinha interesse em produzir jogos para o console nintendista. A diferença no potencial gráfico perante aos seus concorrentes era gigantesca, e, por isso, as desenvolvedoras não queriam separar times inteiros para portar os jogos para o Wii U. Somando o hardware “fraco” ao controle esquisito, que afastava o interesse dos developers que teriam de pensar em formar criativas de usar a tela do Gamepad, o Wii U viveu uma escassez desesperadora de jogos third-party. GTA V? Battlefield 3? Fifa novo? Só em sonhos!

A biblioteca de jogos do Nintendo Wii U tem sim muita jóias, como Zelda Wind Waker HD, Pikmin 3, Bayonetta 2, Super Mario 3D World, Mario Maker, Wonderful 101, entre outros. Mas como poderíamos viver apenas de exclusivos, enquanto as outras plataformas eram entulhadas de lançamentos maravilhosos? O efeito de ciclo vicioso era simples de explicar: o Wii U tinha poucas unidades vendidas, logo não atraía novos desenvolvedores; como não haviam muitos jogos de peso, o console não alcançava maiores vendas. É possível resumir o aparelho em apenas uma frase: casa de jogos Nintendo; poucos fãs estavam dispostos a este sacrifício.

Outro ponto extremamente problemático do console foi o seu controle, o Wii U Gamepad. As suas dimensões eram exageradas, o seu material era frágil, brilhoso e vivia com marcas de dedões, e, principalmente, a duração da sua bateria era PAUPÉRRIMA! A autonomia do meu Gamepad nunca passou de 3 horas e meia, vivendo sempre conectado na tomada enquanto eu jogava. Carregamento USB? Claro que não trouxa, conecte direto na energia e volte a era dos controles com fio. Em contrapartida, os seus gatilhos eram deliciosos de se pressionar e o seu formato se encaixava perfeitamente em minhas mãos.

Ao término da sua produção, O Wii U alcançou a marca das 13,5 milhões de unidades vendidas, uma verdadeira vergonha se comparado ao seu antecessor, o Wii, que passou dos 100 milhões. A comunicação incoerente e confusa, as falhas de design e risco aplicadas no Gamepad, o fraco processamento gráfico sem grandes diferenciais e a falta de apoio continuo de empresas como Rockstar, Activision e EA foram as principais causas do seu “fracasso”. Mas mesmo com tudo isso que eu escrevi, posso falar uma verdade para vocês? Eu AMO o Nintendo Wii U e consigo lembrar de infinitos momentos de diversão que ele me trouxe. Pode não ser o mais poderoso, o mais moderno, o mais vendido, mas é um console que sempre estará guardado no meu coração!

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Jornalista, Youtuber e Influencer há 12 anos trabalhando com games

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