Toda vez que a sociedade presencia um tiroteio, atentado ou qualquer outra forma de violência, é preciso encontrar um culpado. Por conveniência ou ignorância, o ser humano tem dificuldade em assumir seus próprios erros, sempre buscando um “bode expiatório”. E a maior vítima dessa perseguição é aquela que não atinge a maior parte da população e, por isso, é desconhecida por muitos: a indústria dos games.
Um jovem sofre bullying e é humilhado pelos seus colegas de classe diariamente, sem qualquer forma de defesa. Ao buscar auxílio na diretoria da escola, todos os seus pedidos de socorro são ignorados. Ao chegar em casa, seus pais são praticamente ausentes, sem nunca tirarem um tempo para conversarem com o filho e saberem o que ele está passando na sua vida estudantil. Revoltado e desequilibrado, o adolescente pega a arma de fogo que seu pai esconde dentro de casa e chama um amigo para praticar “justiça”. Entra na instituição de ensino, efetua uma dezena de disparos contra os colegas e depois tira a própria vida.
Quem é o culpado dos acontecimentos acima? Serão os colegas que humilhavam o jovem? Será a escola e seus funcionários que lhe negaram socorro? Serão os pais que não conversam com o filho e o deixam sem qualquer suporte educativo? Será o governo que permite que famílias abriguem armamentos em suas casas? Será da conveniência da sociedade em não fazer nada, deixando todos os dias milhões jovens passarem pelas mesmas coisas? Não, só existe um culpado: o jogo de tiro em primeira pessoa que o garoto jogava regularmente.
Dentre as verdades supremas nessa mundo, uma impera: todos nós somos um pouco hipócritas, preguiçosos e dissimulados. Observamos os problemas, e muitas vezes conseguimos chegar a soluções, mas preferimos passar a responsabilidade para frente: a culpa é do pai, da mãe, do chefe, do presidente, do policial, do ex-namorado, do imposto, do médico, da doença; mas morremos de MEDO de dizer “A culpa é minha, vou trabalhar para melhorar as coisas”.
Em qualquer acontecimento das nossas vidas, nunca há apenas um culpado; os problemas e conflitos tem infinitas camadas. A única forma de resolver o aparente “caos social” que vivemos hoje é se cada um fizer a sua parte, sendo honesto, proativo, consciente e respeitoso com o próximo e com as leis que regem a nossa sociedade. Apontar culpados e cruzar os braços nunca mudou nada nesse planeta, e jamais mudará.
E quanto aos vídeo games, você pergunta? Eles influenciam o nosso comportamento? Sim, influenciam. Influenciam tanto quanto os filmes, os desenhos, as músicas, o teatro, os livros, o jornalismo, a filosofia e a cultura familiar. Tudo o que absorvemos muda um pouco de quem somos. Mas nenhum desses meios torna alguém violento, suicida, rancoroso ou insano. Não é proibindo qualquer um desses produtos que resolveremos o problema; é somente através da compaixão, da responsabilidade e da vontade de mudar para melhor que receberemos a esperança de uma sociedade melhor.